Problemas nas
instalações elétricas estão dentre as principais causas de choques elétricos e
incêndios nas edificações brasileiras. Diante desse quadro, a compra de
produtos conformes, associada a bons projetos e a correta execução em
instalações de baixa tensão (até mil volts), não ajuda apenas a manter o
patrimônio intacto, mas salva vidas. Apesar disso, materiais e serviços de
péssima qualidade ainda inundam o mercado e são motivos de preocupação, de
acordo com a Qualifio (Associação Brasileira pela Qualidade dos Fios e Cabos
Elétricos).
Segundo a entidade, de
50 marcas testadas até junho de 2011, sete (embora certificadas) apresentam
condições irregulares e 14 sem certificação têm qualidade inferior aos
requisitos das normas. Apenas 29 atendem à tonalidade das exigências das
normas, regulamentos e disposições pertinentes. O avanço da certificação
compulsória vem proporcionando uma lenta, mas positiva evolução na qualidade
desses produtos. Mas parte do mercado é problemático e engloba certificadoras
não muito confiáveis e produtos que, mesmo com os certificados cancelados,
continuam a ser comercializados por preços mais baixos, acarretando
concorrência desleal.
Diferenças acentuadas
entre preços de produtos semelhantes devem ser consideradas como primeiro sinal
de alerta para identificar a baixa qualidade de um condutor. Produtos nessas
condições geralmente possuem menor quantidade de cobre, matéria-prima
responsável pela condução de eletricidade e que representa cerca de 80% do
custo total de fios e cabos. Apesar disso, ainda existe uma tendência, por
parte das construtoras e dos consumidores finais, de comprar produtos pelo
preço mais baixo.
Para fugir de problemas
com a qualidade do condutor elétrico, a recomendação é consultar os sites da
Qualifio e do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e
Qualidade Industrial), que disponibilizam a lista de empresas certificadas.
Vale lembrar, no
entanto, que a certificação compulsória não garante qualidade similar aos
produtos. A certificação garante que os produtos atendam minimamente aos
requisitos exigidos pelas normas para que possam ser comercializados, mas não
que todos estejam no mesmo nível de excelência. Alguns vão além, o que
justifica as diferenças de preços.
Escolha do
condutor
Há no mercado uma
enorme variedade de fios e condutores para baixa tensão com isolantes de PVC
(cloreto de polivinila), EPR (borracha etileno-propileno) e XLPE (polietileno
reticulado por processo químico), PE (polietileno), náilon e silicone, além de
condutores livres de halogênio, fumaças e gases tóxicos (cuja composição do
material isolante dispensa o uso do cloro, tornando-o atóxico em situações de
incêndio).
Antes da seleção, no
entanto, é preciso definir no projeto parâmetros como a intensidade da
corrente, características da carga alimentada, a tensão nominal da instalação e
as condições externas às quais o edifício estará sujeito, o que inclui
temperatura ambiente, presença de água, vibrações, choques mecânicos, materiais
usados e o número de pessoas.
Muitos erros são
cometidos nessa etapa, dentre eles, a especificação de condutores isolados em
condutos abertos ou em instalações enterradas (aumentando o risco de
curtos-circuitos e choques elétricos) e de cabos PP, próprios para a ligação de
equipamentos, em instalações fixas. Em projetos de shoppings, as ligações
elétricas feitas em forros devem ser feitas com cabos adequados às instalações
aparentes e, em algumas situações até para temperaturas elevadas, evitando
derretimento e cuto-circuito.
A maioria dos casos de
morte por incêndio acontece pela inalação de gases tóxicos. Por isso, a não
utilização dos cabos livres de halogênio, fumaça e gases tóxicos em áreas
comuns de grandes edifícios residenciais e comerciais conforme as condições
previstas pela NBR 5410 também configura omissão grave. Por fim, outro ponto
que merece atenção são as conexões. Tantos as emendas quanto as derivações dos
cabos devem ser feitas corretamente e com componentes adequados, evitando o
aquecimento de alguns pontos, aumentando o risco de incêndios.
Qualidade
instalada
Além da falta de
conformidade dos produtos, o estado geral das instalações elétricas prediais
brasileiras também preocupa. E, com o forte aquecimento do mercado imobiliário,
esse quadro tende a se agravar ainda mais. Uma boa instalação depende de bom
projeto, ou seja, de bons projetistas, e de bons materiais. Mas esses cuidados
ainda não garantem boa instalação. A qualidade da mão de obra é tão importante
quanto o resto, lembrando que a formação de um eletricista demanda, no mínimo,
um ano.
Fonte:
Revista Construção Mercado n.º122 da editora PINI